domingo, março 19, 2017

Carta do Dia: Sete de Ouros



Boa tarde!

Olha aí o SETE DE OUROS marcando presença no domingo de novo!

Essa carta pede uma pausa contemplativa com relação aos nossos projetos. Sua sabedoria está no exercício da Paciência.

Hoje ao tirar essa carta me deu muita vontade de compartilhar com você uma história que aconteceu comigo a alguns anos atrás e que foi muito marcante na minha vida.
Ela inclusive explica porque eu adoro fazer analogia com plantações e sementes nas minhas interpretações no tarot e tem tudo a ver com essa carta de hoje.

Tire um “momento Sete de Ouros” para poder ler esse texto. Ele é bem grande em comparação aos outros que escrevo por aqui. ;)

Eu tinha recém mudado para o interior de Goiás e na minha casa tinha um jardim.
Eu sonhava em ter uma horta e resolvi começar uma. Comprei algumas mudas prontas dei início ao meu projeto.
Um dia, fazendo compras no mercado, vi sementes de tomate cereja. Aquele tomatinho bem pequeno, sabe? Achei tão lindo na embalagem que resolvi comprar para plantar. Estava curiosa porque nunca tinha visto um pé de tomatinho.  
Cheguei em casa, e plantei as sementes em um vaso que estava abandonado em um canto do quintal.
Estávamos em plena seca e o calor era insuportável (quem conhece o clima do cerrado sabe do que estou falando).
Só dava para regar as plantas de noite, porque de dia era impossível. Mal a água chegava ao chão ela já evaporava de tão quente que estava.

Então, todas as noites eu regava o jardim e o vaso onde havia plantado as tais sementes do tomatinho. Um mês se passou e nada do tomatinho brotar.
Resolvi comprar outras sementes, mas daquela vez, em uma loja especializada. O moço garantiu que aquelas sementes eram especiais. Plantei novamente, cheia de esperanças.
Mais um mês se passou e nada aconteceu. Desisti do tomatinho, mas continuei regando as plantas do jardim.  

Estávamos em plena seca e o calor era insuportável (quem conhece o clima do cerrado sabe do que estou falando).

Confesso que muitas vezes, antes da chuva chegar, eu regava o jardim sem qualquer prazer. Muitas delas por me sentir na obrigação e com um boa dose de mal humor. Mas em outros momentos eu curtia demais e até aproveitava para tomar banho de mangueira.
Houve muitas outras noites em que eu cedi à preguiça e me senti culpada por não cuidar das plantas. Também aconteceu de simplesmente não ter água por conta da seca forte. Tínhamos que economizar.

Mas aí aconteceu uma coisa.

Meses depois, após mais um dia de muito calor e baixa umidade, no final da tarde  fomos finalmente contemplados com a primeira chuva e, durante dias, ela cuidou de regar o meu jardim. Durante alguns dias a natureza e a chuva ininterrupta me poupou do trabalho de ir para fora de casa à noite para cuidar dele.

Todos os dias eu acordava e tomava meu café na varanda. Era meu momento contemplativo. Ficava ali olhando para as plantinhas, observando os passarinhos que vinham comer as frutinhas e planejava o meu dia, sem pressa.

Com a vinda da chuva, essa rotina tinha sido interrompida mas, depois de alguns dias, o sol voltou e fui tomar meu café enquanto passeava pelo quintal.

Quando saí pela porta, senti um cheiro maravilhoso. Fiquei olhando em volta para ver de onde vinha aquele aroma e me deparei com a jabuticabeira cheia de flores. Que coisa linda! Eu nunca tinha visto uma florada de jabuticaba. Fiquei encantada porque ela estava coberta de flores pequenas e brancas parecendo que estava coberta de neve. Aquela visão me emocionou.

Continuei olhando em volta e, no cantinho do muro onde antes só haviam pedras e alguns matinhos, flores enormes e violetas tinham aparecido. As plantas, cheias ainda do orvalho da noite pareciam felizes e agradecidas pela chuva daqueles dias.

E no meio do mato que tinha crescido muito naqueles dias, estava o vaso onde eu tinha plantado o tal tomatinho, cheio de brotinhos!

A visão dos brotinhos do tomatinho, a explosão de cores e aromas que emanava do quintal me trouxe um insight. 
O jeito como eu tinha cuidado daquele jardim tinha tudo a ver com a forma como eu tinha cuidado de mim por todos aqueles meses.
Em alguns momentos por pura obrigação e acompanhados de crises de mau humor.
Outros em que consegui me conectar com o prazer e a alegria da minha própria companhia.
A culpa pela preguiça de me olhar profundamente que trouxe sentimentos de abandono dos quais eu era a única responsável e, por fim, o relaxamento e a pausa contida nesses processos de elaboração interna interrompidos por acontecimentos que independiam da minha vontade e estavam fora do meu controle ou entendimento.

E o tomatinho? Ahh...o tomatinho...
Eu plantei, esperei, não tive resultado, plantei de novo, esperei, não nasceu, desisti.
Continuei cuidando de outras coisas e tirei o foco do que eu esperava obter.
Veio a chuva, veio a pausa.
E de onde não havia qualquer expectativa, alguma coisa brotou.
Assim como o tomatinho, tudo em volta ganhou vida. Flores, cores, aromas.
Um ciclo havia se concluído e uma nova compreensão havia chegado.
Eu tinha feito o que podia usando os recursos que possuía.

Foi sem dúvida uma das maiores sacadas que eu já tive e quando me dei conta estava alí agachada na frente do tomatinho com lágrimas escorrendo e com sentimento de gratidão por tudo que tinha vivido aquele tempo todo.

Entendi naquele instante que podemos cultivar coisas em nós que, mesmo empenhados em cuidar, podem não dar certo, ou pelo menos não da forma como queríamos. Outras das quais nem tínhamos consciência, de repente florescem e nos trazem novas perspectivas.
Da mesma forma, aquilo que achávamos ter perdido, pode aparecer novamente de forma surpreendente.
A Natureza com seus mistérios do tempo e suas estações, seus ciclos.

Não temos controle de nada, no final das contas.

Algum tempo depois desse acontecimento, eu chamei um jardineiro para me auxiliar. Por conta da chuva o mato cresceu em uma proporção que eu já não conseguia cuidar sozinha. A essas alturas o tomatinho tinha crescido bastante mas não vingou. Contei ao jardineiro a saga do plantio do tomatinho e ele me disse que a terra que eu havia usado precisava de um preparo diferente e que, se eu quisesse, ele poderia fazer um outro vaso e plantar novamente para mim. Eu fiquei escutando sua fala, absorvendo a mensagem da mesma forma que escutei o que o jardim me disse naquela manhã em que vi os primeiros brotos do tomatinho. E novamente, eu entendi.
Agradeci e disse que não era mais necessário. Queria apenas que ele desse uma geral no jardim porque eu estava prestes a fazer uma viagem e não sabia quando iria retornar.

Assim foi. Poucas semanas depois, arrumei minha mala, dei um agradecido adeus àquela casa e seu jardim que me acolheram por simbólicos nove meses. Foi lá que fiquei me auto gestando.

Até hoje não voltei mais para aquela casa e aquele jardim.
Mesmo que eu voltasse, não seria mais o mesmo jardim, como não sou mais a mesma pessoa que um dia queria saber como era um pé de tomatinho.

Fui viver em outras casas, cuidei de outros jardins e fiz outras tantas viagens e sempre que me dou uma pausa, posso contemplar tudo o que em mim floresceu.

Continuo plantando minhas sementes. Se elas vão germinar ou não, é impossível prever. 

Faço a minha parte, sigo na minha Jornada e deixo a natureza fazer a parte dela. ;)

Um ótimo domingo para todos nós!


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